A quem esta mensagem possa ter encontrado, começo por apresentar-me. Sou um Náufrago. Ou seja, sou alguém que veio parar numa ilha desconhecida do resto do mundo, isolada na imensidão de um oceano qualquer, e da qual as hipóteses de um dia partir ou ser resgatado são muito remotas. Cheguei a esta ilha por mero acaso do destino. Na verdade já nasci náufrago, filho de náufragos que por sua vez também já nasceram naquela condição. Posso dizer que pertenço a uma longa linhagem de Náufragos, que ao longo de séculos passaram de ilha em ilha, na esperança de algum dia voltar à casa.
Foi neste ambiente familiar que cresci. Apesar de Náufrago nativo, não deixei de ser um náufrago, confirmando assim o estatuto da minha linhagem secular. Como era de se esperar, não me sentia como parte daquela ilha, mas como alguém que veio de outro lado e que não era capaz de se integrar, por mais esforço que despendesse. Ao longo dos 29 anos em que estive naquela ilha, vivi sempre com a sensação de que algo melhor me esperava algures. Se me pedissem uma lista dos sítios onde certamente a minha vida seria melhor do que naquela ilha onde eu havia nascido, rapidamente conseguia fornecer uma dezena de opções.
Finalmente um dia, tomei a decisão de avançar para a grande aventura da minha vida: regressar a casa. E para mim, graças a influência recebida dos meus progenitores, a “casa” era aquela pequena ilha, de onde os meus pais náufragos haviam partido 40 anos atrás. Ops! Naufraguei outra vez. É desta ilha que vos escrevo estas mensagens.



quarta-feira, 9 de julho de 2008

A espera de um Milagre

Diante do isolamento a que estamos condenados nesta ilha, há dias em que o desespero nos invade como as vagas de um Tsunami, arrasando com qualquer perspectiva de um futuro melhor. Nestas alturas, resta-nos acreditar que acontecerá um Milagre. Algo maravilhoso que mudará completamente as nossas vidas e que remeterá para o passado todo o sofrimento e a angústia que até então carregávamos connosco. Com o passar do tempo, ficamos cada vez mais dependentes da ideia de que só este grande acontecimento será capaz de nos salvar, e agarramo-nos à esta esperança como se não existisse mais nenhuma outra alternativa.
De repente, lembrei-me de uma anedota que ouvi há alguns anos e que me fez reflectir sobre isto. “Durante uma grande inundação, um homem esperava sentado no telhado da sua casa, enquanto a água continuava a subir pondo em risco a sua vida. Apareceu um vizinho num pequeno barco a remo e disse-lhe para entrar no barco, ao que o homem respondeu: - Sou um homem de fé. O Senhor virá me salvar. O vizinho ainda insistiu, mas o homem não aceitou a ajuda. Mas tarde, apareceu uma embarcação da Protecção Civil, que apesar de sobrelotada com outros resgatados, insistiu para que o homem se juntasse ao grupo, mas temendo que a embarcação afundasse, respondeu: - Sou um homem de fé. O Senhor virá me salvar. Finalmente, surgiu um helicóptero que atirou uma escada para que o homem a agarrasse, mas com medo de cair, disse novamente: - Sou um homem de fé. O Senhor virá me salvar. O nível da água subiu para além do telhado e o homem morreu afogado. Ao chegar ao Céu, dirigiu-se ao Senhor e irritado disse-lhe: Senhor, fui um bom homem durante toda a minha vida, e mantive a minha fé num milagre até ao último instante, e não me salvaste. O Senhor voltou-se para ele e respondeu: Mandei-te um vizinho para te salvar e recusaste, depois enviei os senhores da Protecção Civil e também não aceitaste, por fim um helicóptero e não confiaste. Não há milagre que salve a quem não quer ser salvo”.
Os milagres acontecem todos os dias, nas mais pequenas coisas que estão ao nosso redor. Temos que ser capazes de desviar o olhar daquilo que tanto esperamos e aceitar o que a vida já nos ofereceu. Só assim seremos salvos.

1 comentário:

Ezequiel Coelho disse...

Será coincidência ou universo paralelo, plágio é que não foi! ;)
Parabéns pelo Blog!