A quem esta mensagem possa ter encontrado, começo por apresentar-me. Sou um Náufrago. Ou seja, sou alguém que veio parar numa ilha desconhecida do resto do mundo, isolada na imensidão de um oceano qualquer, e da qual as hipóteses de um dia partir ou ser resgatado são muito remotas. Cheguei a esta ilha por mero acaso do destino. Na verdade já nasci náufrago, filho de náufragos que por sua vez também já nasceram naquela condição. Posso dizer que pertenço a uma longa linhagem de Náufragos, que ao longo de séculos passaram de ilha em ilha, na esperança de algum dia voltar à casa.
Foi neste ambiente familiar que cresci. Apesar de Náufrago nativo, não deixei de ser um náufrago, confirmando assim o estatuto da minha linhagem secular. Como era de se esperar, não me sentia como parte daquela ilha, mas como alguém que veio de outro lado e que não era capaz de se integrar, por mais esforço que despendesse. Ao longo dos 29 anos em que estive naquela ilha, vivi sempre com a sensação de que algo melhor me esperava algures. Se me pedissem uma lista dos sítios onde certamente a minha vida seria melhor do que naquela ilha onde eu havia nascido, rapidamente conseguia fornecer uma dezena de opções.
Finalmente um dia, tomei a decisão de avançar para a grande aventura da minha vida: regressar a casa. E para mim, graças a influência recebida dos meus progenitores, a “casa” era aquela pequena ilha, de onde os meus pais náufragos haviam partido 40 anos atrás. Ops! Naufraguei outra vez. É desta ilha que vos escrevo estas mensagens.



sexta-feira, 4 de julho de 2008

As histórias de Náufragos são todas iguais (Parte II)

Também como na série televisiva, na minha ilha existem os Outros. Os Outros vivem na ilha há muito tempo, construíram uma sociedade que se pretendia “perfeita”, mas como era de se esperar, transformou-se numa comunidade bizarra, capaz de mutilar a liberdade dos indivíduos em prol do suposto bem-estar do grupo. Definiram regras de conduta às quais apenas alguns (os mais fracos) estão sujeitos. Os outros (que governam os Outros), estão acima da lei, ou abaixo, ou talvez ao lado. Enfim, em qualquer sítio onde ela não esteja.
Os Outros são uma ameaça para os novos náufragos da ilha como eu, uma vez que pretendem que engordemos as fileiras dos outros (os que são governados), que pagam tributos e servem a “Comunidade”. Os outros que mandam, manipulam e enganam o resto dos Outros, para que acreditem que não são capazes de sobreviver sozinhos e de que não há melhor sítio para estar do que nesta ilha.
Todos nós, com excepção dos outros (que exploram os Outros), dividem-se entre a ânsia de conseguir escapar da ilha em busca de um sítio melhor, ou o desejo de um dia vir a ser um dos que mandam nos Outros. Acredito que a escolha correcta seria deixarmos de por a culpa nos Outros, assumirmos o controle das nossas vidas e transformarmos esta ilha num sítio melhor para todos. Como? Isso eu ainda não sei. Mas aceito sugestões.

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